O projeto ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA – Esperança de Regresso, de Aline Matheus, que abrange exposição virtual, catálogo, making of e debate em torno do conjunto mais recente de trabalhos da escultora carioca, motivado pela condição de trabalho escravo na contemporaneidade no Brasil. A curadoria é do diretor Claudio Boeckel, que também assina a mostra virtual.
Todas as etapas de Escravidão Contemporânea têm patrocínio do Governo Federal, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.
Na dificuldade de eventos presenciais, todos os itens do projeto são on line, através do site www.alinematheus.com e/ou do youtube [endereço na página da artista]. Dia 25 de março, entra no ar no youtube a mostra virtual com cerca de 11 esculturas, o making of deste audiovisual, mais o catálogo, disponível para consulta e download. O debate live, no Instagram, acontece em 13 de abril de 2021.
Em razão da atividade de auditora fiscal do trabalho, Aline Matheus aprofundou sua pesquisa nos relatos dos auditores que atuam no combate ao trabalho escravo e dos próprios trabalhadores das áreas rurais, no estudo da história do trabalho escravo no país, entre os livros, o de Ricardo Rezende Figueira “Pisando fora da própria sombra – A escravidão por dívida no Brasil contemporâneo’’, e nas propostas das organizações internacionais sobre o tema.
Aline, sensibilizada por uma avalanche de emoções, usou a arte de forma transcendente e denunciatória, ao mesmo tempo, para dar mais voz e acolhimento a essas pessoas que a lei protege, mas a realidade submete às piores condições de vida.
O subtítulo da exposição, Esperança de Regresso, diz respeito ao sentimento do trabalhador escravizado de voltar ao afeto, voltar a um lugar de amparo. O desejo de retornar é permanente (a maioria absoluta vem de outras regiões do país). Esses trabalhadores consideram a chegada das equipes de auditores sua carta de alforria. A perversidade dos escravizadores leva os escravizados acreditarem em uma dívida artificial, de aluguel e mantimentos, que lhes é atribuída, se assumem devedores e não querem ser resgatados antes de quitar suas “dívidas”.
A artista acredita ser “a arte é mobilizadora de afetos e transformadora da realidade”. Não foi por outro motivo que, durante o processo de trabalho, ela precisou parar por três meses pelo sofrimento intenso, e também transformador, que lhe atingiu.
Neste propósito, ela escolheu materiais próximos do universo dos trabalhadores, como tábua de obra, terra, ferro e recipientes enferrujados para suas peças de chão, parede ou pendentes do teto Para o corpo humano, a escultora usa resina, na qual imprime a expressão do corpo físico que conte a história da opressão contínua.
Algumas esculturas vêm acompanhadas de textos de Ilka Matheus, mãe da artista. Os poemas ou trechos deles não foram escritos para as obras, mas se adequam a elas com propriedade. A leitura de uma das poesias de 14 versos deu à Aline a ideia de criar uma “Via Crucis”, composta por 14 painéis de madeira, que traçam um paralelo com a Via Sacra de Cristo. A artista encontrou correspondência entre cada uma das estações e as situações cotidianas vividas pelos escravizados, independente de qualquer significado religioso. Aline acrescentou uma estação, somando 15 peças tridimensionais de parede. Esta última é intitulada ’’Esperança de Regresso“.
O poema “Você me perguntará se ainda acredito”, um ninho vazio, uma gaiola com a porta entreaberta e tecido branco compõem este trabalho que encerra a exposição.” ‘Esperança de Regresso’” vislumbra o voo libertador de quem é oprimido. O voo sinalizando a esperança e a resistência, em uma aventura que desafia os lugares do poder”, conclui Aline Matheus.
O filme
O curador e diretor Claudio Boeckel escolheu a lente macro objetiva para um mergulho na textura, na porosidade da produção de Aline Matheus. Ele quer evidenciar a profundidade que a aproxima do caráter humano, com uma sequência para cada trabalho. As locações das filmagens são os ateliês da artista na Fábrica Bhering, na zona portuária do Rio de Janeiro, e em Itacoatiara, na região oceânica de Niterói, RJ.
“Meu grande norte é estar a serviço da obra; todos os recursos e opções estão a serviço das esculturas”, promete Boeckel. O audiovisual da exposição é um mergulho cinematográfico, ao som de trechos da sinfonia de Rodolpho Rebuzzi, composta especialmente para esta série de peças de Aline Matheus. Completam a trilha sonora outras criações de Rebuzzi.
Artista múltipla
Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, fez o curso de desenho com Mollica e com Charles Watson, o de Processo Criativo, em décadas diversas. Durante sete anos participou do Grupo de Estudos de Modelo Vivo, coordenado por Cláudio Valério Teixeira, em Niterói.
Aline Matheus fez individuais na Caixa Cultural Fortaleza (2019); no Centro Cultural Justiça Federal (RJ, 2019); Espaço Furnas Cultural (RJ, 2016/17) e Parque das Ruínas (RJ, 2017), Centro Cultural Correios (RJ, 2009) e Centro Cultural Carioca (RJ, 2005). Ela participou de coletivas, como o Festival de Esculturas Itinerantes, a Mostra Rio de Esculturas Monumentais (RJ), o Festival de Esculturas do Rio, a Artexpo Las Vegas (EUA), a Ward-Nasse Gallery (NYC). Recebeu Menção Honrosa no Concurso de Arte Livre Saint Germain (SP).
Além do Direito, Aline é formada em artes cênicas pela Casa de Artes de Laranjeiras (CAL) e fez participações em novelas e seriados da TV Globo, como Fina Estampa, O Profeta e A Grande Família.
Claudio Boeckel
O curador Claudio Boeckel é ator e diretor de TV, cinema e teatro. Em artes plásticas atuou na concepção e curadoria das várias mostras individuais de Aline Matheus. Desde 1997 integra o quadro de diretores da Rede Globo, onde dirigiu vários trabalhos, tais como Senhora do Destino, A Força do Querer, Duas Caras, Laços de Sangue (SIC Portugal) e Império (as duas últimas receberam Emmy Awards). No canal Gloob dirigiu a série infantil Gaby Estrella, também indicada ao Emmy Awards Kids. No cinema, dirigiu e roterizou o longa-metragem Cirandeiro, documentário/fábula sobre o teatrólogo Amir Haddad, selecionado para o Festival do Rio 2012, e o filme Gaby Estrella, exibido em circuito nacional, em 2018.
Serviço
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA – Esperança de Regresso
Exposição on line || www.alinematheus.com
A partir de 25 de março de 2021
https://instagram.com/escravidaocontemporaneaexpo